sexta-feira, 27 de junho de 2014

Terceiro dia - 22 de junho, domingo.

terceiro dia começou cedíssimo, para irmos de trem a Nikko, cidade histórica a quase duas horas de Tóquio. Antes das 7h estávamos na estação - lotada, em um domingo! Como citei em uma postagem anterior, era gente indo trabalhar, de terno ou tailleur, galera de estudantes, excursão de idosos. Na minha ótica de brasileira, parecia um dia de semana comum. Olha o pessoal do colégio: 


Viagem de trem no Japão tem sempre suas novidades - a primeira é o fato de se tratar de um Shinkansen, o trem-bala. Outras são algo como este aviso, que poderia funcionar no Brasil, né...


"Por favor, tenha consideração com outros passageiros quando usar o computador (barulho do teclado etc)" (detalhe que é proibido falar ao celular nos trens e metrôs, e todo mundo obedece).

Depois trocamos para um trem local, menor e mais simples e chegamos a Nikko, com chuva. Realmente o lugar é inspirador. Pensar em uma cidade histórica no modelo ocidental (ou especificamente brasileiro) não ajuda a entender essa cidade, que é pequena, mas composta de grandes espaços verdes, onde estão encravados templos budistas muito antigos, misturados à natureza: 



Essa relação tão próxima com a natureza parece mesmo bem forte e responsável por ensinar como se tornar mais equilibrado e sereno. O próprio trabalho de entalhe  feito nos templos passa essa ideia de concentração, persistência e esmero. Algumas fotos que trazem essas duas percepções minhas: 



Outra virtude que me parece ser cultivada é a resistência às dificuldades; por exemplo... 



(morri umas 20 vezes nessas escadas; fico imaginando como os monges andavam por aí séculos atrás, com chuva, frio, sem tênis, sem guarda-chuva... sou fraca mesmo).

Gente, não sei dizer os nomes de todos os templos e monumentos, eram tantos... eu fico tão desligada, vivendo o momento, que não me preocupo em guardar. Mas este aqui merece uma menção especial: é o Estábulo sagrado, no Santuário de Toshogu. Traduzindo do aplicativo GuideWithMe: "o símbolo mais famoso aqui é o entalhe dos três macacos sábios, que 'não escutam o mal, não veem o mal e não dizem o mal' ". É, são eles mesmos! 



Eles fazem parte de uma série que retrata o ciclo da vida; esse estágio é o da criança, que deve ser guardada de toda a maldade. Interessante como esse símbolo foi reinterpretado de maneira tão distinta na cultura ocidental (pelo menos da forma como me lembro, símbolo da omissão e de um certo cinismo - me corrijam seu eu estiver errada).

Falando agora de outros elementos mais concretos e práticos: a comida, por exemplo ;-) O almoço foi à base de uma comida tradicional do lugar, yuba, que, segundo o cardápio, é feita do leite de soja e era fonte de proteína para os monges, que não podiam comer carne. Como estava friozinho, essa sopinha caiu muito bem. 


Uma geral do restaurante, que era administrado e servido só por senhoras:


Ainda nas questões práticas, vale chamar atenção para o vasto trabalho de restauração feito em toda a cidade; há templos do século XVII, nos quais algumas partes-chave já foram restauradas 20 vezes! Há andaimes aqui e ali e cartazes que explicam o trabalho. Um exemplo de detalhes restaurados e a restaurar:



Imagino que, por essa razão, os ingressos tenham preços meio salgados, especialmente se você resolver entrar em todos os espaços. Mas o que mais me intrigou foi (outra vez) a incomunicabilidade: a maior parte das placas nos templos é só em japonês - exceto pelas frases que apresentam proibições: "não é permitido fotografar"; "não passe deste ponto"; "não toque nos objetos". A explicação técnica dada por minha amiga, que estudou Direito, é que a pessoa precisa saber quando está infringindo a lei, pelo menos. Mas eu fico com uma reflexão mais ingênua-lírica ou cultural-questionadora: não querem que entendamos a cultura deles, só que obedeçamos? Isso pode significar "ei, isso aqui é muito nosso, você que veio de outro mundo não precisa saber não, talvez não entenda... você é café-com-leite, apenas fique quietinho, tire os sapatos onde for preciso e comporte-se, sim? Olhe as figurinhas" :-P Posso estar viajando, mas eu fiquei bolada... Como assim eu entro num museu ou prédio histórico e não posso me informar sobre o que estou vendo?! (quem me conhece sabe o peso que isso tem! rs)

De qualquer forma, mesmo com chuva na metade do tempo, o dia foi ótimo e me deu uma boa sensação de serenidade. O passeio terminou muito bem em um café superfofo, com capuccino e torta de maçã:



No Shinkansen da volta, aproveitei para ler uma revista e me inteirar das novidades :-P


Já em Tóquio, demos uma volta rápida na Uniq lo, uma loja de roupas, tipo a Leader ou a Renner. Decidimos comprar na volta, para não levar peso. Porém, deu para ter mais uma boa ideia da moda feminina japonesa: saias godê, blusas de babados, florais e listras, tudo muito feminino, pouco marcado e decotado, com um ar antiguinho de boneca. Gostei! Em breve, algumas fotos da moda de rua, aqui e ali. 

Para quem pretende vir ao Japão, vale a dica que se dá em toda viagem internacional: comprar lanches no mercado para levar durante o dia e/ou para comer no café da manhã. Fizemos isso no Seven Eleven, embora tenha sido difícil (tem manteiga? isso é queijo? não existe pão integral?)

O jantar foi em um restaurante tailandês, porque era perto do hotel e porque topamos o desafio de escolher olhando as figuras (muitos restaurantes não têm cardápio em inglês). E não é que a comida estava boa mesmo? 




6 comentários:

  1. Bi, fico imaginando sua angústia pela dificuldade (ou falta mesmo) de comunicação. Tenho me lembrado muito dos nossos dias na Suécia, principalmente os primeiros, em que era muito estranho ler placas de palavras enormes com muitas consoantes e poucas vogais e não entender nada do que as pessoas falavam a nossa volta. Pelo menos, as placas tinham letras do nosso alfabeto, ao invés de "figurinhas", como aí no Japão. Deve ser meio desesperador! Agora, realmente imagino o quanto angustiada você deve ter ficado em um museo e não poder ler TODAS as plaquinhas de explicação!!!!!! Que tragédia!!!!! hahahahahahaha
    Bom, continue escrevendo e colocando fotos! Está muito legal! As pessoas estão amando!

    Bjs bjs com saudades!

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  2. Seu pai e sua mãe estão adorando as histórias e os textos. Agora, não ter placas explicativas em inglês traz uma grande vantagem. Você não é a última a sair dos museus rsrsrsrsrsrs. Beijos e aproveite bastante. Faça um pirão pra Midori..... ela vai se lembrar muito de Maria e de Rio das Ostras.....

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  3. Esse blog não se resume a ser sobre uma viagem ao Japão, ele é uma autêntica viagem ao Japão...
    Gostei muito da observação sobre a interpretação ocidental das posturas dos três macacos sábios, e da associação entre inocência infantil e sabedoria...

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  4. Fessora, esses são pagodes que eu curto. Só esses. Bacana esse seu empenho em buscar empatizar (inventei agora) com o sentimento japonês, e a comida é uma ótima porta para isso. Não entendo as pessoas que viajam ao exterior e ficam comendo pizza e hamburger. Curtiria muito estar em um desses templos budistas. Os jardins dos templos são planejados, tudo tem um porquê, no intuito de permitir a contemplação interior, cerne do budismo. Estou viajando junto com vc. Bjs! Ralph

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  5. Muito legal, Fabi!

    Boas histórias.

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  6. Muitos jovens fazem cursinhos preparatórios para faculdades nos finais de semana, isso torna também a presença de jovens um tanto quanto grande nesses dias por exemplo.

    Quanta diferença nos trens daqui não é?! Principalmente no que diz respeito a educação, imagine um brasileiro ouvindo funk sem fone de ouvido em um Shinkansen?!

    Adoro esses templos, subiria essas escadas amarradão, mesmo que ficasse cansado :0

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