quarta-feira, 16 de julho de 2014

Abashiri e Kiyosato: oitavo dia de viagem, 27 de junho, sexta-feira

Abashiri e Kiyosato: oitavo dia de viagem, 27 de junho, sexta-feira

O dia começou muito bem: Midori foi nos encontrar no hotel em Abashiri. 18 anos distante e nada mudou, ela continua a mesma figura! (e eu também :-P ) Mas ela não foi sozinha... levou uma fofíssima bonequinha que fala: Rio, de 4 anos, a filha mais nova. O nome dela é esse mesmo (pronuncia-se com r de "para" e sílaba forte no "o", fechado); é um nome japonês que significa um tipo de flor, mas foi escolhido também em lembrança à cidade do Rio de Janeiro! De início a boneca ficou tímida, pois ainda não conhecia aquela gente estranha, que éramos nós; achei até que era superquietinha (conclusão precipitada rs ;-) Mas tínhamos tempo para nos conhecer...

Em Abashiri, visitamos o museu da prisão, uma antiga cadeia-fazenda que funcionou ali no final do século XIX e início do século XX. Foram reconstituídos os prédios e montadas as cenas da rotina na prisão, com bonecos para representar os presos. É uma visita interessante, embora, de fato, seja estranho ver assim uma situação tão triste; para o visitante interagir com a exposição, é possível até pôr um modelo da roupa antiga dos presos e deitar em uma cama semelhante à que eles usavam. Considerando que as condições de vida eram terríveis (lá faz um frio de 20 graus negativos no inverno) e que muitas pessoas morreram ali, realmente não é confortável que o lugar tenha virado atração turística. Mas o espaço natural é lindo e muito bem cuidado (infelizmente, fotos só na câmera). Finalmente apareceu o céu azul do Japão!

Depois, almoçamos em um restaurante muito agradável, com uma vista linda para o mar e o cais de onde, no inverno, saem barcos turísticos para ver os blocos de gelo que vêm da Rússia. Dali, antes de irmos para Kiyosato-cho, paramos no supermercado para Midori fazer compras. Esse momento do dia é digno de nota porque o mercado já é uma atração: tantas coisas diferentes, que não dá mesmo para saber saber o que são, cores variadas, formatos exóticos, tudo muito arrumado e limpo. Foi uma diversão fazer compras! rs Fiz muitas fotos, mas na câmera... Duas coisas a notar: os carrinhos de compras não são enormes como no Brasil (acho que as pessoas não fazem tanto compras grandes); e as seções de açougue e padaria são mínimas, se comparadas às do Brasil - em compensação, a seção de peixaria... é bem maior e mais variada. 

No final da tarde, chegamos a Kiyosato-cho e à casa de Midori. É uma cidade rural, com grandes plantações, não só de arroz, mas também de outros alimentos (agora não lembro quais). Aproveitei para descansar um pouco e conhecer a vida em família no Japão. Minha nova amiga, Rio, começou a ficar mais à vontade e se enturmar, pulando na pilha de futons (cama japonesa) e edredons no nosso quarto. Termino então esta postagem com uma foto da minha linda boneca japonesa - admirem :-)


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ida para Sapporo, província de Hokkaido: sétimo dia de viagem, 26 de junho, quinta-feira

Lição aprendida nas férias: descansar também cansa. Na última noite em Tóquio, dormi supertarde, tipo 1h, lavando roupa e arrumando as tralhas. Aí, no dia de ir embora de Tóquio, acordamos cedíssimo, umas 4h30; um cadinho puxado, neeeeé? Pegamos o trem na própria estação de Shinjuku, direto para o aeroporto de Narita. Fica um aprendizado: é bem útil marcar todas as passagens de trem do JR Pass logo na chegada ao Japão, como li neste blog ); porém (pelo menos pra mim), é difícil fazer todas as previsões em termos de distância entre estações (e quantidade de energia a ser gasta). Então, é mesmo no local que dá pra decidir como fazer: tínhamos reservado essa passagem saindo da estação Tóquio, mas era mais fácil sair de Shinjuku mesmo, pra não mudar de trem com as malas; bom é que é sempre fácil trocar, e assim fizemos.  

No aeroporto, viajamos de Jet Star, empresa barata, mas boa: é do tipo que não serve nada, vende todo o lanche,  mas o avião é legal. Só que a mala tem que pesar exatos 20kg; como tanto a minha quanto a da minha amiga estavam com um tiquinho a mais que isso, o atendente mandou transferir coisas pra bagagem de mão (que precisa ter 7kg). 

Mas faltou explicar: para onde exatamente estávamos indo? No mapa mais abaixo, você pode ver a província norte do Japão, Hokkaido: no inverno (estamos no verão), é o lugar onde faz mais frio. É também a região mais rural do país (se não estou enganada), com destaque para a criação de gado e cavalos e a preservação de grandes espaços naturais. E por que eu inventei de ir para lá? Nas outras duas viagens internacionais que fiz (Canadá e Espanha/Inglaterra), só depois de tudo pronto fui me dar conta de que estava indo para conhecer países, sim, mas a motivação tinha sido encontrar pessoas, que moravam no lugar ou que estavam por lá. Acho que viagem para mim passa necessariamente pelos viajantes, para ter alma, corpo, interação e não ser apenas mera observação distante. Desta vez, não está sendo diferente: fui tão longe para encontrar uma das minhas amigas-bonecas-inteligentes, Midori, japonesa da gema. 

Este é um caso muito bem-sucedido de amizade à distância: a gente se conheceu no meu primeiro ano de faculdade, 1995 (ui!), quando  ela, que era estudante de português da Universidade de Kioto, foi fazer intercâmbio de 1 ano na UFF. Eu e minha amiga Sonia, que sempre gostamos de estrangeiros, grudamos nela e na outra japonesa, Norie. Mas a amizade que ficou foi com Midori, uma figurinha muito divertida e gente boa. Minha família inteira gostou dela, quando viajou conosco nas férias de 96, antes de voltar para o Japão. Posso dizer também que ela me ajudou em parte da minha escolha profissional, porque foi informalmente minha primeira aluna de português para estrangeiros - me diverti muito ensinando um monte de expressões idiomáticas pra ela, que fazia aquela maravilhosa expressão japonesa de espanto: ooooooohhhh :-O (alguém já viu um japa de olho arregalado? É ótimo! rs). Pois bem, desde que ela voltou, há quase 20 anos, temos nos correspondido e feito contrabando de guloseimas pelo correio (ela adora Fandangos, pode?!). Acompanhei  seu casamento, o nascimento dos 3 filhos e a mudança para Hokkaido - e esse é o motivo de vir tão longe.  Tão longe mesmo: ela está morando em Kiyosato, quase no fim do mundo: olha o mapa! É praticamente na Sibéria!


Voltando à viagem: chegando a Sapporo, deixamos as malas nos lockers (armários com chaves) do aeroporto, para ir dar uma volta na cidade, que é a capital da província de Hokkaido, e pegar o trem para Abashiri às 17h30. Erro de cálculo: a cidade não é tão perto do aeroporto (mais de 30 min) e o trem da tarde saía de Sapporo mesmo. Ou seja: fomos passear, voltamos ao aeroporto pra buscar as malas e novamente seguimos pra Sapporo. Enfim, pelo menos as passagens estavam incluídas no JR Pass...

Não deu para ver muito da cidade, mas a impressão foi ótima: é uma capital japonesa - leia-se bem desenvolvida e organizada - mas mais calma que Tóquio (de alguma forma, lembra a atmosfera de Aracaju, ou Curitiba). Passeamos em um pequeno espaço do Parque Odori, uns jardins lindos no meio da cidade. Era um típico dia de verão japonês: gente pegando sol na grama, crianças tomando banho no chafariz (pareceu supernormal aqui), idosos passeando, barracas de uma feirinha. E canteiros muitíssimo bem cuidados por voluntários, como vimos depois. Sente o clima: 




Inevitável lembrar novamente do vô Chico, por todas aquelas flores, plantas e por uma exposição de orquídeas que estava acontecendo. Fizemos muitas fotos por lá e, para almoçar, compramos comida em uma das barraquinhas. Escolhi bolinho frito de feijão e yakisoba (isso aí vermelho é gengibre colorido): 


Foi uma tarde muito agradável. Assim, depois daquela manobra que contei antes, pegamos o trem para Abashiri, cidade que fica a 1h de Kiyosato, para dormirmos lá. Já sabíamos que a viagem iria das 17h30 às quase 23h, mas, na prática... A sensação era de que a cidade estava chegando mais pra lá, ou de que o fim do mundo estava próximo: o trem esvaziando, as estações se tornando menores e mais simples, e nós lá... Por fim, saltamos em uma beira de estrada tipo de filme, com um mercado 24h ao lado e nin-guém na rua. Ah, tamos no Japão, tudo bem! Mas é aquela história, se antes a comunicação já estava complicada, agora ferrou, é só japonês e mímica! O hotel era logo em frente - e um senhorzinho, já avisado de que chegaríamos tarde, nos recebeu muito bem (dentro do que foi possível comunicar). Tínhamos escolhido um quarto típico japonês, deu pra entrar no espírito. Depois dessa coça de dia de viagem, só um sono japonês mesmo... -_-